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Pediram-me para escrever sobre a Ellen Oléria e pensei: que responsabilidade, hein? Porque aquilo que as pessoas do meio musical já sabiam, e que o programa The Voice Brasil acabou evidenciando, é que aquela menina de Brasília possui uma voz tão impressionante que chegou ao ponto de me intimidar na hora de produzir um texto à altura. Para sair bem desta, optei por rever a minha memória a fim de descobrir por quais razões a interpretação dela me toca tanto.
Conheci o trabalho da Ellen há, mais ou menos, dois anos, quando um amigo me mandou um link da artista cantando "Me deixa", uma das minhas composições com O´Rappa. Fiquei chapado! Totalmente impressionado com aquela figura de voz potente e marcante, mas também hipnotizado pelo seu jeito único de cantar e tocar. Isto tudo numa maneira muito brasileira, com acordes, notas e gestos carregados da negritude que balança o seu canto e o seu violão.
Ellen Oléria segue a tradição de cantoras que se impõem não só pelo talento, mas pela necessidade de trazerem a carga afro-brasileira como principal viés de sua expressão. E pensar que foram tantas e maravilhosas mulheres que ocuparam (e ainda ocupam) esse lugar... Sem pensar muito, me recordo de Clementina de Jesus, Áurea Martins, Eliana Pitman, Zezé Mota e Elza Soares, entre muitas outras que ajudaram a firmar, no nosso imaginário, o peso necessário da África e da mulher inserida, sentida e assumida pela sua forte brasilidade.